Cadeia
in Entre Dois Séculos
Setembro 15, 2024
Neste território acidentado
Não escolho o percurso
Não designo o fado
Não tenho mapa nem bússola
Não há estrela polar que me guie
Não há farol na falésia
Não há satélite no espaço
Apenas oiço o vento a desbravar
O silêncio nocturno
Apenas vejo o ondular azul
Do mar soturno
Não há avanço nem recuo
Não há origem nem epílogo
Apenas o corredor difuso
Onde reina o absurdo.
Não sei se preciso de mais paz
Ou se é o silencioso sossego que me enerva.
Não sei se me arroje ao caminho - que mal distingo
Ou se me deite a dormir na lápide do costume.
Não sei o que faça a este lume,
Não sei o que faça a este frio.
Não sei se escreva o testamento
Ou se prepare a travessia num novo rio.
Só nas sombras esconsas do meu desvelo
Sobrevive o parco ânimo que ainda carrego
- enrolado num secreto novelo.
O que quero subsiste para lá
Do que a loucura patenteia
Mas o que alcanço é só o pó que sobra, inerte,
Nas grades desta cadeia.
«Entre Dois Séculos» está disponível na íntegra no Wattpad. Acede aqui.