Porque é que não dá para ter tudo? Para ser tudo? Porque é que é sempre preciso escolher entre uma coisa e outra?

Não posso ter paixão e sexappeal sempre no on sendo casada? Não posso ter talento e criatividade sem estar deprimida? Porque é que os binómios na minha vida nunca andam a par e passo?

Porquê estes ritmos sempre dissonantes e descompassados? Porque é que não posso ter a melodia a bailar no mesmo tom da batida de fundo?

Porque é que eu não quero coisas coerentes e capazes de uma perfeita coexistência pacífica? Porque vivo eu sempre nesta paz podre, incapaz de derreter esta guerra fria?

Nem fio da navalha nem equilíbrio são. Nunca nada que faça algum sentido, por mínimo que seja! Nunca nada melhor!

Melhor...

Desde miúda, cedo senti que havia algo melhor nesta vida reservado para mim, como quando vamos a um restaurante, e está lá uma mesa bonita, no canto mais agradável, com a plaquinha bonita a dizer «Reservado». Olho sempre para ela e penso que, um dia, estará reservada para mim. Não essa mesa, claro, mas a mesa do porvir, a mesa do destino.

Mas os anos vão passando, e eu para aqui continuo, condenada a comer ao balcão!

Agora apenas penso que o melhor nunca virá, e se vier, será, do mesmo velho e bafiento modo do costume, pouco melhor que isto...

O melhor... o melhor seria mesmo acabar com isto de uma vez por todas!

Mas imagino sempre... e se? E se o estupor do destino estiver só à espreita, caladinho, à espera que eu esteja mesmo pronta a desistir de vez, para acontecer?

E se acontecer... hoje?

Não, era o que faltava! Não vou atirar com a toalha, não lhe vou dar esse gostinho, ou eu não me chame Esperança! Siga, levantar da cama, tomar banho, e começar o dia.

Outra vez.

A ver se desta é mesmo de vez – e acontece o melhor!